COLUNA ENXADRÍSTICA

 
Houve uma época em que era totalmente proibido para as mulheres, a prática do Xadrez. A primeira referência sobre uma mulher enxadrista é uma carta islâmica datada do ano802. Porém, a primeira notícia de participação da mulher em torneio de xadrez data de 1617, quando o italiano Pietro Carrera publicou a seguinte relação de jogadores:
CLASSIFICAÇÃO
10 - Lúcio Timpanello, siciliano
83-      A mulher de Timpanello
84-         Sua filha 
Fonte: Revista Nosso Xadrez, (1973)

Estudo dos Clássicos

Crônica publicada no semanário "Americana Esportes" Uma das maiores curiosidades para os interessados no xadrez é: afinal como se estuda este jogo? Muitos me questionam se tenho treinador, se utilizo livros, se jogo sozinho ( esta é a pergunta chave). De fato não é facil explicar que um enxadrista que almeje progredir deva estudar pelo menos duas horas dia, concentrado, mexendo as peças e pensando em estratégias futuras. Mas é realmente o que acontece. E, como todos os esportes e ciências, nada é adquirido sem um estudo teórico - trabalho árduo, que requer muita dedicação.
Poderíamos escrever um livro inteiro sobre as formas mais proveitosas de estudar xadrez. Não tendo espaço e muito menos pretensão para tal, me restrinjo a examinar mais detalhadamente um dos tópicos essenciais para o desenvolvimento enxadrístico, seja de um iniciante, seja de um profissional: o estudo dos clássicos. Por clássicos entenda-se obras que marcaram época, sobreviveram ao seu tempo, servindo como material de estudo para mais que uma geração. Esta idéia - tão óbvia quanto renegada - , é fundamental para todas as ciências e artes. Que será de um jurista que nunca leu Kelsen, de um escritor que desconhece Shakespeare? Entretanto, mesmo alguns bons enxadristas têm grave deficiência neste tópico. Isto é, de certa forma, reflexo do egoísmo inerente ao ser humano, que naturalmente descarta o que não lhe parece útil. Certa feita, perguntei a um jovem e talentoso jogador se ele tinha porventura estudado as partidas dos primeiros campeões mundiais, ao que ele prontamente me respondeu: - Pra quê, se nunca vou enfrentá-los?
Uma informação curiosa e que a muitos espanta, é que o xadrez é o segundo tema com maior número de publicações, perdendo apenas para religião. As primeiras anotações sobre xadrez que se têm registro remetem ao século XV, apesar do jogo ser bem mais antigo. É interessante observar que, não obstante o notável desenvolvimento do jogo desde então, com o domínio de um sem número de estratégias e o advento do computador, algumas das conclusões dos pensadores daquela época continuam extremamente atuais, precisas, servindo de base especialmente para as técnicas de final de jogo. Se não houvesse o conhecimento destes estudos tão remotos teríamos que inventar a roda novamente, mas aproveitando este legado é possível trabalhar para descobrir novas idéias, desenvolver o jogo.
Todos os grandes enxadristas observam um notável domínio dos clássicos. Bobby Fischer era capaz de reproduzir, de memória, pelo menos cem partidas de cada campeão mundial que lhe antecedeu. O russo Gary Kasparov também já mostrou em diversas oportunidades a importância que releva ao tema. Tanto que publicou este ano seu primeiro tomo sobre os grandes jogadores que lhe precederam ( serão cinco livros no total ). O livro chama-se My Great Predecessors e é o que se poderia chamar de "clássico contemporâneo". Em suma, sem conhecer o passado é impossível construir o futuro.

Fonte: Ajedrez 21


VOCE SABIA?


                                      
 O famoso guerrilheiro cubano Che Guevara era um grande entusiasta do xadrez. Na foto histórica ele assiste a partida entre o representante dos Estados Unidos, GM Larry Evans (à direita), e o representante da União Soviética, GM Mark Taimanov (à esquerda). Esta partida fazia parte das Olimpíadas de Havana, 1966. 
Ernesto Che Guevara, o comandante da guerrilha comunista vitoriosa na revolução cubana de 1959, ainda hoje aparece em estampas de camisetas. Ícone dos anos 1960s, talvez seja menos lembrado por suas idéias do que por sua imagem de jovem rebelde ("sem causa"?). Che Guevara era argentino e como tantos argentinos, um bom amador de xadrez. Existem fotos dele jogando xadrez e partidas anotadas. Jogou numa simultânea contra o fortíssimo GM Miguel Najdorf e conseguiu empatar ("tablas", como dizem nuestros hermanos argentinos.)

Nos anos 1920s, o cubano José Raul Capablanca foi considerado uma máquina de jogar xadrez. Seu estilo era quase perfeito. Nenhum outro sofreu tão poucas derrotas quanto ele. Raros mestres puderam vencer Capablanca, e somente uma única e exclusiva vez: Botvinnik, Euwe, Keres, Reshevsky, Réti, Janowsky, Rubinstein... Mais raríssimos ainda foram os jogadores que conseguiram a proeza de triunfar sobre Capablanca mais de uma vez. Na verdade, apenas quatro mestres alcançaram essa glória suprema: Alekhine, Lasker, Spielmann e Marshall
Fonte da foto: http://www.chess.gr/
 

Documento raro revela...

Até Morphy foi perseguido pela imprensa!
No dia 2 de julho de 1859 os proprietários da Munn and Company apresentavam ao público americano a nova estrela do mercado editorial. “American Scientific”, que se não me engano, existe até hoje. A proposta era apresentar as novidades em matéria de inovação tecnológica. Convém lembrar que estávamos na última fase da Revolução Industrial quando locomotiva era sinônimo de carro do ano! A revista também abordava assuntos menos “fabris”, como educação, psicologia, filosofia e assim foi durante muitos anos.

Tive acesso ao número um. E advinhem quem estava logo na primeira página? Ele mesmo, Paul Morphy.
É uma grande notícia, não é? Pois bem, você não diria isso depois de ler o texto! É uma esculhambação do início ao fim e pior, escrito numa prosa do mais alto nível!
Morphy voltava da sua primeira viagem à Europa e foi recebido com festa em várias cidades, inclusive por pessoas graduadas no meio científico.

A revista não perdoou o que chamou de excitação nacional: “Por que lamentamos? A resposta é simples. O xadrez é um passatempo de caráter inferior, que rouba da mente um tempo precioso que deveria ser dedicado a causas mais nobres...”

E segue:

“O xadrez ganhou reputação como disciplina da mente porque requer boa memória e peculiares poderes de combinação. Acredita-se ser uma ferramenta para intelectos superiores. Estas opiniões, acreditamos, estão totalmente equivocadas (...). Napoleão, O Grande, que tinha grande paixão pelo jogo, perdia freqüentemente para um doceiro em Santa Helena. (...) Jogadores renomados não mostraram ter habilidades superiores em outras áreas. E pessoas sabidamente brilhantes não se tornaram grandes jogadores de xadrez. (...)"

"Aqueles engajados em atividades mentais devem evitar o xadrez..o jogo desvia e suga as energias do intelecto...Aqueles que vivem do próprio negócio, da profissão não podem perder tempo com o jogo – um jogo que traz muitos prejuízos ....”

E assim vai.

O texto é muito maior e a minha tradução está pra lá de livre.
Passados anos, Morphy retornou à Paris.
Já não gostava tanto de xadrez nem estava tão brilhante como antes.
Um exemplar da mesma American Scientific de 1864 registrava: “Nos chega a notícia de que o imbatível Paul Morphy acaba de perder várias partidas para um jogador francês.”
O francês, no caso, era Jules Arnous de Riviere.
Morphy, desgostoso com a vida que levava, abandonou os tabuleiros logo depois. A revista não falou mais dele!
 FONTE:AJEDREZ 21